Será que mesmo em um local deserto e afastado, sem nada e ninguém por perto, uma pessoa poderia se considerar só?
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Isto aconteceu há vários anos atrás. Havia entrado de férias e prometi para mim mesma de que desta vez as férias
seriam diferentes.
Já havia prometido que
naquela quinta-feira iria para fazenda da Carlota, uma grande amiga minha que
morava em uma fazenda.
Ela já estava aposentada havia alguns anos e eu sempre
adiava a visita a ela.
Peguei o carro e rumei em direção a fazenda, a qual estava distante cerca de 230 km, mas valeria a pena.
Precisava realmente de me isolar um pouco, e ficar sem
nenhum tipo de preocupações com família, trabalho ou coisa parecida.
Estava na estrada a algum tempo, e Já era quase 01:00' da manhã quando o carro engasgou, começou a engasgar e dar
solavancos cada vez maiores até que parei no canto da estrada.
Não acreditava
que aquilo estivesse ocorrendo comigo.
Era muita falta de sorte, pois segundo meus
cálculos teria mais uns 30 a 40 minutos para chegar à fazenda.
A única coisa que
sabia era que não era falta de gasolina, pois o ponteiro estava marcando ainda
três quartos, e eu tinha enchido o tanque no caminho.
Saltei do carro e até mesmo
abri o capô do carro como se entendesse muito de mecânica, na esperança de que
pudesse ver algum fio solto ou sei lá o que!!!
Fiquei pensando o que fazer naquele fim de mundo, não havia nenhuma luz ao
longe, nenhum carro à vista, não era uma estrada principal e sim secundária e
pelo estado dela não era muito utilizada, não havia iluminação.
Já havia fechado
o capô do carro e estava ainda maquinando o que fazer para sair daquela
enrascada, quando ouvi barulho de passos na mata que ficava entre a estrada
levemente esburacada, mas não via absolutamente nada.
Aquilo já me deixou
alerta. Ouvi vozes, mas não conseguia saber nem sequer de onde vinham.
Foi quando
eu vi um homem e logo atrás uma mulher, mas eles andavam sem que mexessem com o
corpo, foi quando chegaram mais perto e eu vi que na verdade eles deslizavam como
se os pés ficassem a milímetros do chão, mas apenas deslizavam para se
locomover, isso foi o suficiente para eu endurecer toda e agachar de medo atrás
da Belina.
Agora eu via nitidamente os dois acompanhando o sentido da estrada e
descendo na direção oposta em que estava indo antes do carro enguiçar.
Eram figuras que eram humanas, mas não eram humanas na maneira de andar, elas
simplesmente deslizavam.
Eu estava totalmente apavorada e paralisada com que estava
vendo.
Eu jamais acreditei em histórias sobrenaturais, sempre achava que as
pessoas fantasiavam muito as coisas e estava presenciando o que ali????
Fiquei
por mais algum tempo agachada e as figuras já haviam até sumido há algum tempo,
mas simplesmente eu não reagia.
Foi quando meus joelhos começaram a doer demais
e comecei então a me movimentar e ver o que fazer, e dali a algum tempo eu ouvi
um barulho de respiração ofegante ainda longe, sem que tivesse ninguém ali, mas
chegando até mim, vindo na minha direção.
E não precisou de mais nada eu me meti
dentro do carro e tranquei a porta e percebi que chorava de puro terror.
As
minhas mãos tremiam e estavam úmidas.
Tentei girar a chave e o carro pegou e então ao mesmo tempo senti um baque muito
forte no capo do carro, soltei um grito e depois outros murros no capô sem ter
ninguém na minha frente.
Havia batidas também no vidro do carona como se
esmurrassem o vidro do carona.
Engatei a primeira e acelerei com exagero e
tentei ter equilíbrio para soltar a embreagem o mais lento possível porque se o
carro morresse naquela subida acho que acabaria morrendo de enfarte.
Agarrei o
volante como se fosse a minha tábua de salvação e com tanta força que minhas
mãos doíam.
Era algo desesperador, havia murros nos vidros do outro lado e no
capo do carro a medida que ia saindo de lá, mas não havia nada.
Saí de lá
bastante acelerada, mas não muito depressa como falei, pois o risco do carro
morrer definitivamente para mim seria a própria morte, por isso tive que ter um
autocontrole imenso.
Eu chorava desesperadamente e trinquei os dentes como se aquilo me desse algum
conforto.
Era uma estrada com subida, mas não era muito alta, apenas levemente
inclinada, mas para um carro com defeito não podia ser pior.
Os socos ou murros
continuavam pelo teto até o final do carro à medida que ia saindo dali.
Continuei tentando me controlar agarrada ao volante o máximo que podia e rezando
para sair dali.
Estava ainda em primeira marcha, marcha de força, meu medo maior
era ir para segunda e o carro acabar pifando ali mesmo.
Esperei me distanciar
mais um pouco e joguei a segunda, muito embora o carro já pedia uma marcha mais
suave, a terceira, porque não havia praticamente nenhuma subida e sim um plano
reto, mas preferi manter a segunda que era mais garantido, não podia cometer
nenhum erro. O carro roncava feito desesperado, mas eu não estava nem aí, só
queria sair dali junto com o carro.
Consegui soltar o ar dos pulmões quando ao sair de uma curva peguei uma descida
também pouco inclinada, mas agora era uma descida.
Já não escutava mais os
murros no carro.
Comecei a descida e somente alguns bons metros adiante eu
arrisquei rapidamente a terceira e senti que o carro aceitou sem sequer engasgar
e alguns metros mais adiante eu passei a quarta com toda atenção possível e vi
que nada de anormal aconteceu com o carro. Segui pela estrada apenas um pouco
menos apavorada, mas o suficiente para ver que estava encharcada de suor, embora
fosse um dia frio. Estava totalmente encharcada e o suor da testa pingava tanto
que caia nos meus olhos e ardiam.
E finalmente peguei uma estrada que via
raramente algum caminhão em sentido contrário, mas agora havia algum movimento,
mesmo que raro.
Segui mais alguns tantos quilômetros que não sei calcular, sendo que dei uma olhada no mapinha que a Carlota havia feito para mim na última vez que tinha ido
lá em casa, e vi que já estava chegando.
Quando cheguei na fazenda, lá pelas três e pouca da manhã ela veio correndo me
receber, sabia que eu estava a caminho e não foi dormir pensando já que alguma
desgraça havia acontecido.
Quando ela olhou o meu estado lastimável, realmente viu que algo de horrível
havia acontecido, sendo que nesse momento eu apenas quis abraçá-la e comecei a chorar novamente, mas
agora de alívio.
Foi aí que ela me alertou que estava também ensangüentada na
suéter branca, parte do pescoço, canto da boca também.
Ao observar melhor, já
dentro de casa vi no espelho que com o grau de desespero que estava e na
tentativa de fazer o carro sair de lá, eu recordei que trincava os dentes direto
o que fez com que a bochecha interna e a pontinha do lábio ficassem feridos.
Foi
uma experiência horrível, parecia que ia morrer de susto, morrer no sentido real
mesmo.
Dois dias depois eu e Carlota levamos o carro em um mecânico que era seu
conhecido e ele não viu nada de anormal no carro, dizendo que estava em perfeitas
condições, inclusive em perfeitas condições de viagem de volta.
Ele deduziu que pode ter havido alguma sujeira que tivesse sido sugada pelo
tanque e entupiu parcialmente o carburador do carro.
E a lataria da Belina que pensei
que estivesse toda amassada estava totalmente normal, com exceção de uma pequena
marca na traseira do lado do motorista, mas essa eu tenho quase certeza que já
existia antes do ocorrido.
E após passar duas semanas tranqüilas com ela, chegou o dia de retornar.
Como segurança, seu
tio que era grande conhecedor da região foi me acompanhando em seu carro um bom
pedaço do caminho, só por garantia.
O que foi tudo aquilo que aconteceu, eu não sei, mas aqueles foram os momentos mais assustadores de toda a minha vida.
Essa foi a minha experiência sobrenatural. |